quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O LIVRO DE AREIA- O livro de areia (1975) / Jorge Luis Borges ; tradução Davi Arrigucci Jr. -

A linha consta de um número infinito de pontos, o plano, de um número infinito de linhas; o volume, de um número infinito de planos, o hipervolume, de um número infinito de volumes... Não, decididamente não é este, more geométrico, o melhor modo de iniciar meu relato.

Afirmar que é verídico é, agora, uma convenção de todo relato fantástico; o meu, no entanto, é verídico.

Vivo só, num quarto andar da Rua Belgrano. Faz alguns meses, ao entardecer ouvi uma batida na porta. Abri e entrou um desconhecido. Era um homem alto, de traços mal conformados. Talvez minha miopia os visse assim. Todo seu aspecto era de uma pobreza decente. Estava de cinza e trazia uma valise cinza na mão. Logo senti que era estrangeiro. A princípio achei-o velho; logo percebi que seu escasso cabelo ruivo, quase branco, à maneira escandinava, me havia enganado. No decorrer de nossa conversa, que não duraria uma hora, soube que procedia das Orcadas.

Apontei-lhe uma cadeira. O homem demorou um pouco a falar. Exalava melancolia, como eu agora.

- Vendo bíblias - disse.

Não sem pedantismo respondi-lhe:

- Nesta casa há algumas bíblias inglesas, inclusive a primeira, a de John Wiclif. Tenho também a de Cipriano de Valera, a de Lutero, que literariamente é a pior, e um exemplar latino da Vulgata.

Como o senhor vê, não são precisamente bíblias o que me falta.

Ao fim de um silêncio respondeu:

- Não vendo apenas bíblias. Posso mostrar-lhe um livro sagrado que talvez lhe interesse. Eu o ad-quiri nos confins de Bikanir.

Abriu a valise e o deixou sobre a mesa. Era um volume em oitavo, encadernado em pano. Sem dúvida, havia passado por muitas mãos. Examinei-o; seu peso inusitado me surpreendeu. Na lombada dizia Hali Writ e, abaixo, Bombay.

- Será do século dezenove - observei.

- Não sei. Não soube nunca - foi a resposta.

Abri-o ao acaso. Os caracteres me eram estranhos. As páginas, que me pareceram gastas e de pobre tipografia, estavam impressas em duas colunas, como uma bíblia. O texto era apertado e estava ordenado em versículos. No ângulo superior das páginas, havia cifras arábicas. Chamou-me a atenção que a página par levasse o número (digamos) 40.514 e a ímpar, a seguinte, 999. Virei-a; o dorso estava numerado com outra cifra. Trazia uma pequena ilustração, como é de uso nos dicionários: uma âncora desenhada à pena, como pela desajeitada mão de um menino.

Foi então que o desconhecido disse:

- Olhe-a bem. Já não a verá nunca mais.

Havia uma ameaça na afirmação, mas não na voz.

Fixei-me no lugar e fechei o volume. Imediatamente o abri. Em vão busquei a figura da âncora, folha por folha. Para ocultar meu desconcerto, disse:

- Trata-se de uma versão da Escritura em alguma língua indostânica, não é verdade?

- Não - replicou

Logo baixou a voz como que para me confiar um segredo:

- Adquiri-o em uma povoação da planície, em troca de algumas rupias e da Bíblia. Seu possuidor não sabia ler. Suspeito que no Livro dos Livros viu um amuleto. Era da casta mais baixa; as pessoas não podiam pisar sua sombra sem contaminação. Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim.

Pediu-me que procurasse a primeira folha.

Apoiei a mão esquerda sobre a portada e abri com o dedo polegar quase pegado ao indicador. Tudo foi inútil: sempre se interpunham várias folhas entre a portada e a mão. Era como se brotassem do livro.

- Agora procure o final.

Também fracassei; apenas consegui balbuciar com uma voz que não era minha:

- Isto não pode ser.

Sempre em voz baixa o vendedor de bíblias me disse:

- Não pode ser, mas é. O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última. Não sei por que estão numeradas desse modo arbitrário. Talvez para dar a entender que os termos de uma série infinita admitem qualquer número.

Depois, como se pensasse em voz alta:

- Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço. Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo.

Suas considerações me irritaram. Perguntei:

- O senhor é religioso, sem dúvida?

- Sim, sou presbiteriano. Minha consciência está limpa. Estou seguro de não ter ludibriado o nativo quando lhe dei a Palavra do Senhor em troca de seu livro diabólico.

Assegurei-lhe que nada tinha a se recriminar e perguntei-lhe se estava de passagem por estas terras. Respondeu que dentro de alguns dias pensava em regressar à sua pátria. Foi então que soube que era escocês, das ilhas Orcadas. Disse-lhe que a Escócia eu estimava pessoalmente por amor de Stevenson e de Hume.

- E de Robbie Burns - corrigiu.

Enquanto falávamos eu continuava explorando o livro infinito. Com falsa indiferença perguntei:

- O senhor se propõe a oferecer este curioso espécime ao Museu Britânico?

- Não. Ofereço-o ao senhor - replicou e fixou uma soma elevada.

Respondi, com toda a verdade, que essa soma era inacessível para mim e fiquei pensando. Ao fim de poucos minutos, havia urdido meu plano.

- Proponho-lhe uma troca - disse. O senhor obteve este volume por algumas rupias e pela Escritura Sagrada; eu lhe ofereço o montante de minha aposentadoria que acabo de cobrar, e a Bíblia de Wiclif em letras góticas. Herdei-a de meus pais.

- A black letter Wiclif! - murmurou.

Fui ao meu dormitório e trouxe-lhe o dinheiro e o livro. Virou as páginas e estudou a capa com fervor de bibliófilo.

- Trato feito - disse.

Assombrou-me que não regateasse. Só depois compreenderia que havia entrado em minha casa com a decisão de vender o livro. Não contou as notas e guardou-as.

Falamos da Índia, das Orcadas e dos Jarls noruegueses que as governaram. Era noite quando o homem se foi. Não voltei a vê-lo nem sei o seu nome.

Pensei em guardar o Livro de Areia no vão que havia deixado o Wiclif, mas optei finalmente por escondê-lo atrás de uns volumes desemparelhados de As mil e uma Noites.

Deitei-me e não dormi. Às três ou quatro da manhã, acendi a luz. Procurei o livro impossível e virei suas folhas. Em uma delas vi gravada uma máscara. O ângulo levava uma cifra, já não sei qual, elevada à nona potência.

Não mostrei a ninguém meu tesouro. À ventura de possuí-lo se agregou o temor de que o roubassem e, depois, o receio de que não fosse verdadeiramente infinito. Estas duas preocupações agravaram minha já velha misantropia. Restavam-me alguns amigos; deixei de vê-los. Prisioneiro do Livro, quase não saía à rua. Examinei com uma lupa a lombada gasta e as capas e rechacei a possibilidade de algum artifício. Comprovei que as pequenas ilustrações distavam duas mil páginas uma da outra. Fui anotando-as em uma caderneta alfabética, que não demorei a encher. Nunca se repetiram. De noite, nos escassos intervalos que a insônia me concedia, sonhava com o livro.

O verão declinava e compreendi que o livro era monstruoso. De nada me serviu considerar que não menos monstruoso era eu, que o percebia com olhos e o apalpava com dez dedos com unhas. Senti que era um objeto de pesadelo, uma coisa obscena que infamava e corrompia a realidade.

Pensei no fogo, mas temi que a combustão de um livro infinito fosse igualmente infinita e sufocas-se o planeta de fumaça.

Lembrei haver lido que o melhor lugar para ocultar uma folha é um bosque. Antes de me aposentar trabalhava na Biblioteca Nacional, que guarda novecentos mil livros; sei que à mão direita do vestíbulo, uma escada curva se some no sótão, onde estão os periódicos e os mapas. Aproveitei um descuido dos empregados para perder o Livro de Areia em uma das úmidas prateleiras. Tratei de não me fixar em que altura, nem a que distância da porta.

Sinto um pouco de alívio, mas não quero nem passar pela Rua México.

BIBLIOTECONOMIA


MINHA TENTATIVA DE DEFINIÇÃO:


ACREDITO QUE BIBLIOTECONOMIA É O CAMPO/ CIÊNCIA QUE ESTUDA AS FORMAS DA ORGANIZAÇÃO, TRATAMENTO, RECUPERAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DO CONHECIMENTO, NOS VÁRIOS AMBIENTES(EX: WEB, BIBLIOTECA, CENTRO DE INFORMAÇÃO, EMPRESAS, INDUSTRIAS, ARQUIVOS, ESCOLAS, UNIVERSIDADES), E SUPORTES(ex:LIVROS IMPRESSOS, E-BOOKS, PERGAMINHO,ETC.). QUANTO MAIS ESTUDAMOS, PERCEBEMOS O QUANTO É DIFICIL DELIMITAR SUA DEFINIÇÃO E SEUS CAMPOS DE ATUAÇÃO - ISTO SE DEVE AO FATO DE QUE A BIBLIO(APELIDO DE BIBLIOTECONOMIA), TEM COMO FUNÇÃO ABARCAR TODOS OS CAMPOS DO SABER ONDE HÁ INFORMAÇÃO, OU SEJA, TODOS. PODEMOS TRABALHAR EM VÁRIOS SETORES E COM INÚMERAS PRÁTICAS BIBLIOTECONôMICAS,TAIS COMO A CLASSIFICAÇÃO, INDEXAÇÃO E RESUMOS, NORMATIZAÇÃO, PESQUISA BIBLIOGRÁFICA, PESQUISA DE REFERÊNCIA, CATALOGAÇÃO, ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO NO AMBIENTE WEB, CRIAÇÃO DE VOCABULÁRIOS CONTROLADOS, ADMINISTRAÇÃO DE SITES/ BIBLIOTECAS/ CENTROS DE INFORMAÇÃO, ALÉM DAQUELES QUE SEGUEM O RAMO DA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM BIBLIOTECONOMIA. DURANTE OS VÁRIOS POSTS VOU ESPECIFICANDO MAIS O QUE É BIBLIO, POIS CONFESSO, É UMA ÁREA DINÂMICA, ASSIM COMO O ONHECIMENTO.


ALGUMAS DEFINIÇÕES:

"O objetivo da biblioteconomia seja qual for o nível
intelectual em que deve operar é aumentar a
utilidade social dos registros gráficos
, seja para
atender à criança analfabeta absorta em seu primeiro
livro de gravuras, ou um erudito absorvido em
alguma indagação esotérica. Portanto, se a
biblioteconomia deve servir à sociedade em toda
extensão de suas potencialidades, deve ser muito
mais do que um monte de truques para encontrar um
determinado livro numa estante particular, para um
consulente particular.
Certamente é isso também,
mas fundamentalmente biblioteconomia é a gerência do
conhecimento. Por isso, estes novos mecanismos
projetadas para manipular conhecimentos a fim de que
o homem possa alcançar melhor compreensão do
universo no qual se encontra, são de especial
interesse para o bibliotecário. Pois o bibliotecário
fará mal sua tarefa se não compreender todo o papel
do conhecimento na sociedade que ele serve e a
parte que as máquinas podem realizar no processo da
"ligação do tempo". O bibliotecário é o supremo
"ligador do tempo", e a sua disciplina é a mais
interdisciplinar de todas, pois é a ordenação,
relação e estruturação do conhecimento

e dos conceitos.
(SHERA,1977)

"O bibliotecário seria nesse cenário o tomador de decisões, acerca das providencias a serem tomadas nas politicas eficientes na busca, no tratamento – indexação, catalogação, preservação-, e disseminação da informação, dialogando com outros campos de pesquisa, como a informatica e a arquivologia, visando alcançar seus obejtivos de maneira eficaz, eficiente e com efetividade. É o bibliotecário que deve investigar novos métodos para que o acesso seja significativamente para todos."(MARIA LUISA CORREA DINIZ DE CARVALHO, TRABALHO APRESENTADO AO PROFESSOR LAFAYETTE NA DISCIPLINA INTRODUÇÃO A BIBLIOGRAFIA E DOCUMENTAÇÃO, 2011).

WIKIPEDIA:SÓ COLOCO POIS SEI QUE É VERDADE. CASO CONTRÁRIO, NÃO MESMO.
"Biblioteconomia estuda os aspectos da representação, da sistematização, do uso e da disseminação da informação através de serviços e produtos informacionais. Trata sobre a análise, planejamento, implementação, organização e a administração da informação em bibliotecas, bancos de dados, centros de documentação, sistemas de informação e sites, entre outros."

DISPONÍVEL EM : . ACESSO EM 08 FEV. 2012.